Num mundo cada vez mais conectado, a nossa privacidade online está constantemente em risco. A recolha de dados, o seguimento da nossa atividade e as ameaças de cibercriminosos fizeram com que proteger a nossa informação pessoal fosse mais importante do que nunca. À medida que as ameaças evoluem, também as soluções tecnológicas para salvaguardar a nossa privacidade evoluem. A pergunta é: como nos podemos proteger num ambiente digital tão intrusivo?
Medidas básicas para melhorar a tua Privacidade e Segurança Digital
Aqui apresentamos algumas medidas básicas que podes implementar para melhorar a tua segurança online. Implementando estas medidas, podes melhorar significativamente a tua privacidade e segurança digital:
- Criar Senhas Fortes e Únicas Usa senhas longas, combinando letras, números e símbolos. Evita palavras comuns e usa um gestor de senhas para armazená-las.
- Ativar a Autenticação em Dois Fatores (2FA) Adiciona um segundo fator de segurança, como um código enviado para o teu telemóvel, para proteger as tuas contas.
- Fazer Cópias de Segurança Regularmente Faz cópias de segurança dos teus arquivos importantes, seja na cloud ou num dispositivo externo, para evitar perdas.
- Manter os Teus Dispositivos e Aplicações Atualizados Atualiza regularmente o teu software para corrigir falhas de segurança e proteger-te contra novas ameaças.
- Ter Cuidado com os Links e Arquivos Desconhecidos Não clicques em links nem descarregues arquivos de fontes duvidosas. Verifica sempre a autenticidade das mensagens antes de agir.
Surfar na Internet Protegendo a Nossa Privacidade
A privacidade na internet é fundamental para proteger a nossa informação pessoal e evitar o acesso não autorizado aos nossos dados. Ao navegar pela web, deixamos vestígios da nossa atividade, como endereços IP, cookies e registos de buscas. Estes podem ser usados por empresas, hackers ou até governos para fins comerciais, de vigilância ou cibercrime.
Para manter a privacidade, é importante usar ferramentas como navegadores com funções de privacidade, VPNs, bloquear cookies de seguimento e estar ciente das permissões que damos a aplicações e sites web.
Os Navegadores com Mais Privacidade: Tor Browser, Brave
Alguns navegadores são projetados especificamente para proteger a privacidade do utilizador, enquanto outros recolhem grandes quantidades de dados.
- Tor é uma rede de anonimato que, embora não seja um navegador por si só, é utilizada através de um navegador especializado, o Tor Browser. Esta rede roteia o teu tráfego através de múltiplos servidores distribuídos, o que dificulta o rastreamento da tua atividade online e oculta a tua identidade de forma avançada.
- Brave também se destaca pelo seu foco na privacidade, bloqueando anúncios e rastreadores por padrão, evitando a recolha de dados sem o teu consentimento.
- Por outro lado, navegadores mais comuns como o Google Chrome e o Microsoft Edge recolhem dados dos utilizadores para melhorar a experiência do produto ou, em muitos casos, para fins publicitários. O seu modelo de negócios depende fortemente da recolha de informações, o que limita a privacidade do utilizador.
O Mito do Modo Anónimo: Não guarda o histórico, mas continua a recolher dados.
É importante mencionar que muitos utilizadores acreditam que ativar o modo “anónimo” ou “navegação privada” melhora significativamente a sua privacidade. No entanto, este modo apenas evita que o histórico de navegação e os cookies sejam guardados no dispositivo. Não impede que os sites continuem a recolher dados sobre ti, como o teu endereço IP ou a tua atividade online. Por conseguinte, a navegação em modo anónimo não oferece uma proteção real sobre a privacidade na rede.
Evita o modo anónimo se o que realmente desejas é proteger a tua privacidade. Independentemente do navegador que utilizares, a seguir veremos formas de melhorar a tua privacidade online:
Redes de Anonimato e Privacidade
Uma rede de anonimato é uma infraestrutura que permite aos utilizadores navegar pela internet sem revelar a sua identidade ou localização real. Estas redes são desenhadas para proteger a privacidade dos utilizadores e dificultar o rastreamento das suas atividades online. Funcionam encriptando o tráfego dos utilizadores e redirecionando-o através de uma série de nós distribuídos, o que torna quase impossível identificar a origem da conexão.
Alguns exemplos de redes de anonimato incluem:
- Tor (The Onion Router): Proporciona anonimato na web através da rota de tráfego por múltiplos nós, mas pode ser lento devido ao número de etapas no seu processo.
- I2P (Invisible Internet Project): Oferece anonimato dentro de uma rede privada e é ideal para serviços internos, mas não é útil para navegar na web pública.
- Lokinet: Proporciona anonimato com alto desempenho e baixa latência, ideal para aplicações de alto largura de banda, embora seja uma tecnologia mais recente com menor adoção.
- Nym: Combina uma mixnet com incentivos económicos para melhorar o desempenho e a privacidade, mas o seu design complexo limita a sua adoção em comparação com outras redes.
Em resumo, Tor e I2P são ideais para quem procura anonimato, mas Tor foca-se na web pública e I2P em redes internas, enquanto Lokinet e Nym se destacam pelo seu desempenho e velocidade, adequados para aplicações de maior largura de banda. A escolha entre elas dependerá das tuas necessidades específicas de privacidade e desempenho.
Os Serviços de Mensagens Mais Privados
Se te preocupa a privacidade nas tuas comunicações digitais, é essencial escolher um serviço de mensagens que priorize o encriptado de ponta a ponta e não dependa de servidores centralizados que possam comprometer os teus dados.
Aplicações como as que serão listadas a seguir oferecem uma maior proteção contra vigilância e roubo de dados:
- Briar: Uma das aplicações de mensagens mais privadas orientada à segurança. Usa uma rede descentralizada que pode funcionar sem ligação à internet. As mensagens estão encriptadas de ponta a ponta e, como não existem servidores centralizados, os teus dados não são armazenados em lado nenhum. Além disso, não solicita nem número de telefone nem email para criar a conta.
- Session: Focada na privacidade e anonimato. Utiliza uma rede de nós descentralizados para encaminhar as mensagens, o que significa que não há servidores centrais que possam armazenar as tuas conversas. O encriptado de ponta a ponta garante que ninguém, nem os administradores da rede da Session, possam aceder às tuas mensagens. A Session utiliza endereços de utilizador baseados em números gerados aleatoriamente.
- Jami: Plataforma de mensagens distribuída que não depende de servidores centrais. Usa um protocolo de rede de pares (peer-to-peer), o que significa que as mensagens são enviadas diretamente entre os utilizadores sem passar por nenhum servidor. Esta rede descentralizada e sem intermediários proporciona uma camada adicional de privacidade. Jami encripta as mensagens de ponta a ponta. Além disso, não requer que os utilizadores forneçam informações pessoais para criar uma conta.
- Signal: Segurança abrangente com encriptação de ponta a ponta, embora exija um número de telefone. É uma aplicação de código aberto que utiliza encriptação de ponta a ponta em todas as comunicações. A empresa recolhe mínimos dados, como o número de telefone utilizado para a ativação, mas não recolhe informações sobre mensagens ou contactos.
Diferenças com outros serviços de mensagens
As principais diferenças entre estas aplicações de mensagens privadas e serviços como WhatsApp, Messenger ou SMS são as políticas de privacidade e a forma como gerem os dados.
WhatsApp e Messenger armazenam dados dos utilizadores em servidores centrais e têm políticas de recolha de dados que permitem partilhar informação com as suas respetivas empresas-mãe, como o Facebook (agora Meta). Embora o WhatsApp use encriptação de ponta a ponta, ainda se recolhem metadados, como informações sobre os teus contactos e interações.
SMS não oferece encriptação, o que significa que as conversas podem ser interceptadas facilmente. Além disso, os fornecedores de serviços móveis têm acesso às mensagens.
Telegram é um meio termo em termos de privacidade. Oferece mais privacidade do que as aplicações comerciais tradicionais, mas não atinge o nível de privacidade total que as alternativas mais focadas na segurança oferecem.
As aplicações como Signal, Session, Briar e Jami não armazenam metadados ou informações pessoais, e dependem de protocolos descentralizados ou redes privadas para garantir que as tuas comunicações não sejam armazenadas ou rastreadas por terceiros.
O Uso de VPN: Quando e Por Que Usá-las?
Com a crescente preocupação pela proteção de dados pessoais, muitas pessoas recorrem às VPNs (Redes Privadas Virtuais) como uma solução para salvaguardar a sua informação na internet. Mas, quando é recomendável usar uma VPN? Realmente oferecem maior segurança? São fiáveis as VPNs gratuitas? A seguir, vamos abordar estas questões.
O que é uma VPN?
Uma VPN (Rede Privada Virtual) é uma tecnologia que permite criar uma conexão segura e encriptada através da internet, que liga um dispositivo (como um computador, smartphone ou tablet) a outro servidor. Este servidor pode estar localizado em qualquer parte do mundo, o que permite ao utilizador navegar como se estivesse naquela localização.
Realmente uma VPN oferece maior segurança?
As VPNs são eficazes para melhorar a segurança em certos contextos, mas não são uma solução infalível. Alguns dos benefícios de segurança que oferecem incluem:
- Encriptação de dados: As VPNs encriptam a informação que envias e recebes, dificultando que qualquer pessoa consiga aceder a ela, mesmo quando se está a usar uma rede não segura.
- Ocultação do IP: Ao ocultar o teu endereço IP real, as VPNs protegem a tua identidade online, o que também dificulta o rastreamento das tuas atividades na internet.
- Proteção contra ataques de intermediários (Man-in-the-middle): As VPNs protegem a informação contra ataques onde um terceiro se interpõe na comunicação entre ti e o serviço com o qual te conectas.
É importante ter em mente que uma VPN não garante uma proteção total. Não protege contra malware, phishing ou o download de arquivos maliciosos, por isso é necessário complementar o seu uso com outras medidas de segurança, como um bom antivírus.
Quando é recomendável usar uma VPN?
De qualquer forma, existem situações em que usar uma VPN é recomendável:
- Para te conectares a uma Wi-Fi pública: Protege os teus dados ao encriptar o tráfego em redes abertas e evitar que os hackers interceptem informação sensível, como senhas ou dados bancários.
- Acesso a conteúdo bloqueado geograficamente: Permite aceder a conteúdo restrito em serviços de streaming alterando a tua localização virtual.
- Proteção contra a recolha de dados: Oculta o teu endereço IP e encripta o teu tráfego, dificultando que empresas ou governos rastreiem as tuas atividades online.
- Trabalho remoto: Oferece uma conexão segura para aceder a redes corporativas, protegendo informação confidencial.
São fiáveis as VPNs gratuitas?
As VPNs gratuitas podem parecer uma opção atrativa, mas frequentemente envolvem riscos significativos. Embora ofereçam a mesma funcionalidade básica que as pagas, os serviços gratuitos podem não ser tão seguros como afirmam.
Alguns dos riscos importantes associados com as VPNs gratuitas incluem:
- Limitação de funcionalidades: Servidores e largura de banda reduzidos, o que pode tornar a navegação lenta.
- Registo de dados: Podem armazenar e vender a tua atividade online, comprometendo a privacidade.
- Publicidade intrusiva: Algumas injetam anúncios ou vendem os teus dados a terceiros.
- Riscos de segurança: Podem conter vulnerabilidades ou malware que comprometem os teus dados.
Embora nem todas as VPNs gratuitas sejam perigosas, é importante pesquisar a fundo o fornecedor antes de a utilizares e estar consciente dos possíveis riscos. Em geral, se a privacidade e segurança forem prioridades para ti, o ideal é optar por uma VPN paga que ofereça garantias de não registo de dados, encriptação robusta e uma política de privacidade clara.
Que características deve ter uma VPN fiável?
Se decidires usar uma VPN, seja gratuita ou paga, é fundamental que o fornecedor tenha as seguintes características:
- Política de não registos: Garante que não são guardados dados da tua atividade online, protegendo a tua privacidade.
- Encriptação robusta: Deve usar encriptação forte como AES-256 para proteger os teus dados.
- Protocolos atualizados: Implementação de protocolos seguros como OpenVPN, IKEv2 ou WireGuard.
- Transparência: O fornecedor deve ser claro sobre as suas práticas de privacidade e estar baseado num país com leis de privacidade rigorosas.
Em conclusão, a privacidade digital é um direito fundamental que deve ser protegido face às crescentes ameaças tecnológicas. É essencial que os utilizadores estejam conscientes dos riscos a que estão expostos e tomem medidas proativas para salvaguardar as suas informações pessoais. Por sua vez, as empresas e os governos têm a responsabilidade de garantir a segurança dos dados e promover políticas que respeitem a privacidade de todos os indivíduos no ambiente digital.